A pré-candidatura do ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil-PR) esbarra nos planos de um antigo aliado, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR). Após desistir da Presidência e ter sua mudança de domicílio eleitoral para São Paulo barrada, o ex-juiz confirmou a pré-candidatura ao Senado pelo Paraná na última terça-feira (12).

Dias, que liderava as pesquisas de intenção de voto ao Senado com larga vantagem, agora pode ter a sua reeleição dificultada, ao ver parte de seu eleitorado migrar para o ex-juiz e ex-ministro da Justiça.

O senador foi um dos responsáveis pela ida do ex-ministro ao Podemos. Apesar disso, Moro negou o “apadrinhamento”. Em recente entrevista à “Jovem Pan Paraná”, o ex-juiz afirmou ter uma boa relação e respeitar o senador, mas disse que “não existe essa questão de padrinho político”.

“Não vejo nenhuma possibilidade de mal-estar. Tenho uma carreira independente, que construí com meus méritos individuais e institucionalmente, que não tem nenhuma relação com o Alvaro Dias”, disse Moro.

À CNN, Alvaro Dias afirmou que prefere não comentar sobre os seus concorrentes. “A melhor resposta é o silêncio”, disse o senador.

Pesquisa Ipespe divulgada no último dia 7 mostrou que o líder do Podemos ainda está à frente da disputa, com 31% das intenções de voto, ao passo que Moro tem 24%.

Já a pesquisa TV Record/RealTime Big Data, publicada no último dia 27, apontou Moro com 30% das intenções de voto e Dias com 23%. Sem o ex-juiz, o senador tinha 35% das intenções de voto, mais do que o quádruplo do segundo colocado, Paulo Martins (PL), que tem 8%.

Moro e Dias disputam apoios

Senador e ex-juiz também disputam o apoio do atual governador Ratinho Júnior (PSD), que lidera a corrida pelo governo paranense e ainda não definiu quem apoiará ao Senado.

Dias se diz confiante com a manutenção da aliança, que foi selada em 2018. “Existe uma aliança entre nós desde 2018. Então a pergunta que se faz é: ela será mantida ou será desfeita? A expectativa é de manutenção, pela lógica”, diz o senador. Lideranças do Podemos compõem a base do atual governador.

O senador considera ser fundamental estar com Ratinho Júnior. Além do palanque, o apoio lhe cederá mais tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio.

Por ter uma das maiores bancadas no Congresso, o União Brasil dará a Moro um expressivo tempo de propaganda eleitoral na TV.

De padrinho a adversário

Quando oficializou sua candidatura à Presidência em 2018, Alvaro Dias homenageou a Operação Lava Jato e a “República de Curitiba”. Mais do que isso, afirmou em seu discurso que, caso eleito, convidaria o então juiz Sergio Moro para ocupar o cargo de ministro da Justiça. Dias ficou na nona colocação, mas Moro comandou o ministério durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Anos depois, o senador voltou a apoiar a entrada do agora ex-juiz na política, que saiu do governo após romper com Bolsonaro. O líder do Podemos abriu mão da disputa ao Planalto em 2022 para, segundo ele, facilitar uma eventual candidatura de Moro pela sigla.

Incentivado pelo senador, Moro se filiou ao Podemos, em novembro do ano passado, e foi apresentado como pré-candidato à Presidência pela legenda.

O ex-juiz chegou a superar os dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto, o melhor desempenho de um nome testado na disputa do pleito, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Bolsonaro.

No entanto, optou por sair do Podemos e se filiar ao União Brasil no final de março — dois dias antes do término do prazo estabelecido pela legislação. Além disso, transferiu seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo.

À época, através de nota, o Podemos afirmou ter sido pego de “surpresa” com a decisão do ex-juiz. “Tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação interna do ex-presidenciável”, afirmou o partido.

Em janeiro, Dias havia classificado como “imprópria” uma mudança de partido do ex-juiz.

Durante meses, havia dúvida sobre o cargo que Moro disputaria. Entre as opções, estava a Presidência — apesar de retirar o nome da disputa no ato de filiação ao União Brasil, Moro e chegou a afirmar que “não desistiu de nada”; a Câmara dos Deputados — a vontade do União Brasil era que o ex-juiz fosse um “puxador de votos”; e o Senado — Moro liderava a disputa e chegou a se apresentar como pré-candidato à Casa por São Paulo.

No entanto, o Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo (TRE-SP) acolheu, em junho, o recurso do PT contra a decisão que havia aprovado o pedido de transferência de domicílio eleitoral do ex-ministro de Curitiba para a capital paulista. Dessa forma, Moro foi forçado a mudar os planos.

De volta ao seu estado de origem, o Paraná, o ex-juiz optou pela candidatura ao Senado. “Sou pré-candidato ao Senado pelo Paraná, a minha terra. Precisamos de renovação e mudança. Eu acredito que, a partir do Paraná, podemos criar novas leis, fazer cumprir aquilo que é justo na legislação atual e fiscalizar o executivo com rigor”, disse em vídeo exibido na terça-feira (12) em Curitiba.


Autor: CNN Brasil

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here