A ferrugem asiática, principal doença que ataca a soja, foi encontrada em 11 das 14 áreas de plantio de um teste sem autorização da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). A constatação da doença foi realizada pelo Indea que localizou a presença do fungo Phakopsora pachyrhizi foi detectada em níveis leves a severos.

Por este motivo, o Ministério Público Estadual (MPE) requereu que a Aprosoja deposite R$ 214 milhões para compensar o dano ambiental causado. O valor se refere ao dano ambiental causado, devido ao fato de a associação descumprir o calendário da soja, cujo cultivo em Mato Groso é permitido entre setembro e dezembro, e por descumprir a proibição de fazer dois cultivos de soja consecutivos.

Essas medidas, além do vazio sanitário, compõe uma estratégia para diminuir a intensidade da proliferação do fungo da ferrugem asiática. Mesmo sabendo dessas barreiras legais, a Aprosoja e parceiros insistiram no plantio de soja no mês de fevereiro em 14 áreas de 50 hectares cada em vários pontos do estado.

Conforme esperado, o experimento “Análise comparativa da severidade foliar da ferrugem asiática em lavouras de soja semeadas em dezembro de fevereiro na safra 2019/2020”, manteve o fungo no solo, podendo aumentar sua resistência aos fungicidas. Apesar de não ter autorização para o plantio, a associação de produtores e parceiros recorreu Justiça com 14 agravos de instrumento para que o plantio realizado em fevereiro pudesse crescer e ser colhido. Contrapondo os argumentos da Aprosoja, o Indea, a Embrapa, o Imea e outras entidades destacaram a falta de rigor científico do experimento e dos danos ambientais que podem ultrapassar a R$ 3 bilhões se a cultura seguisse em desenvolvimento.

Com o grão em ponto de ser colhido, a Justiça Estadual ordenou que a Indea fique responsável pelo armazenamento, além de fazer novas análises de presença do fungo. O experimento da Aprosoja seguiu como os produtores esperavam, mas não foi por falta de aviso.

Em carta enviada à Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Cuiabá, em 10 de abril, Austeclínio Lopes de Farias Neto, Chefe Geral da Embrapa Agrossilvipastoril, e José Renato Bouças Farias, Chefe-Geral da Embrapa Soja, alertaram oficialmente sobre a ingerência da associação de produtores. “Em quatro reuniões deliberativas formais com votação, ocorridas recentemente no Mato Grosso, com a participação de diversas instituições e representantes de distintos segmentos da cadeia produtiva da soja, foi decidido de forma praticamente unânime, pela não aprovação da semeadura da soja em fevereiro por prolongar o período com a cultura no campo e aumentar a pressão de seleção para resistência aos fungicidas”, diz um trecho da carta.

A quase totalidade das pesquisas feitas no mundo sugerem diminuir o período do plantio, que em Mato Grosso vai de setembro a dezembro, e não desobedecer a calendarização. “Sem a calendarização, permitiremos o que chamamos de “ponte verde”, com lavouras de soja ficando de forma contínua, permitindo que fungos selecionados por fungicidas passem para lavouras que irão receber novas aplicações, criando cada vez mais fungos com resistências múltiplas. O fungo da ferrugem tem uma geração a cada sete dias, e essas novas mutações que conferem resistência têm se mantido no genoma do fungo, mesmo no vazio sanitário para a próxima safra”, diz outro trecho.

Da mesma forma, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que o Valor Bruto de Produção (VBP) da soja em Mato Grosso para 2020 deverá chegar em R$ 38,23 bilhões. Mas, com o alastramento da ferrugem, poderá haver uma redução de 10% na produção, implicando em R$ 3,82 bilhões a menos.

Autor: Folhamax

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