A atividade econômica começou a se agitar novamente depois que o presidente Jair Bolsonaro anunciou gastos fiscais para lidar com as consequências da Covid-19, mas o otimismo foi abalado por temores de que essa abordagem possa prejudicar a agenda de austeridade se mantida por muito tempo.
O Brasil registrou mais de 3,6 milhões de casos de coronavírus desde o início da pandemia, o pior surto do mundo fora dos Estados Unidos.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB), que serão divulgados em 1º de setembro, devem iniciar um debate acirrado sobre a extensão de uma vasta iniciativa de gastos que está corroendo rapidamente a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes.
O crescente déficit orçamentário alimentou preocupações entre os economistas, cujas advertências estão aumentando a pressão sobre um governo que já enfrenta críticas por sua abordagem diante da crise sanitária, que já custa quase 115 mil vidas.
O PIB provavelmente caiu 9,4% no período de abril a junho na comparação com o trimestre anterior, após uma queda de 1,5% no primeiro trimestre, de acordo com a mediana das estimativas de 33 economistas consultados entre 17 e 21 de agosto. As previsões variaram de queda de 7,5% a recuo de 13,6%.
Quase todos os entrevistados que responderam perguntas separadas sobre o desempenho dos componentes do PIB citaram os gastos e os investimentos privados como fatores que pesaram a economia no segundo trimestre, com a renda familiar enfraquecida pelo aumento do desemprego e as empresas segurando os gastos de capital.
Refletindo uma retomada nascente diante da paralisia inicial, o tamanho estimado da queda da economia em termos anuais foi reduzido pela segunda vez, com os analistas esperando uma contração de 10,7%, ante projeção de perda de 12,7% em maio.
“As soluções dadas por diversos governos impediram que a queda fosse ainda mais pronunciada”, escreveram analistas da MB Associados em relatório na semana passada. “Os diversos programas de auxílio de renda ajudaram a manter certo padrão de consumo, principalmente das classes mais baixas de renda.”
Além do aumento dos gastos públicos no segundo trimestre, os analistas esperavam ver impacto do aumento do comércio brasileiro, que foi impulsionado por uma grande desvalorização do real em meio à pandemia.
“Os setores commoditizados, como agropecuária e extrativa mineral, terão resultados bem razoáveis e alguns segmentos que em um primeiro momento pareciam que teriam queda mais forte, como construção e investimento, terão quedas menores do que se imaginava”, completou a MB Associados.
No entanto, a deterioração das contas públicas e seu impacto político estão começando a afetar os mercados locais novamente.
Fonte: Reuters