Após apresentar desde o início da pandemia do novo coronavírus baixa ocupação de leitos hospitalares, Mato Grosso vê o cenário da Covid-19 avançar e passou a ter lotação de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) em algumas cidades do interior do estado. “Estamos muito preocupados com Mato Grosso. Deve virar um novo Amazonas.”

O alerta vem do epidemiologista Diego Xavier, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz, diante da escalada de casos e mortes por Covid-19 no estado e do aumento da ocupação de leitos de UTI. O estado, segundo a Secretaria de Saúde, tem, até terça-feira (16), 6.877 casos da doença. Em 18 de maio, eram 941 casos, total que, no dia 31, já era de 2.485.

O total de óbitos também viu uma escalada: em 18 de maio eram 30, número que saltou para 63 no dia 31. Nesta terça, alcançou 250.

Várias cidades, como Cáceres, Sinop, Sorriso e Confresa estão com os serviços de saúde entrando em colapso. Nesta terça, o Hospital Regional de Sinop tinha 18 dos 20 leitos de UTI ocupados (90% do total), enquanto em Cáceres todos os cinco leitos disponíveis estavam em uso, mesma situação de Sorriso, com seus dois leitos sob gestão estadual ocupados.

Já em Rondonópolis, 8 dos 12 leitos do Hospital Regional (66,6%) estavam ocupados na terça. O índice da capital, Cuiabá, também é alto: 82,5% dos 40 leitos de UTI sob gestão estadual estão em uso.

Segundo Xavier, não é momento de o estado, e muito menos a capital, relaxar nas medidas de isolamento, porque a doença está se espalhando para o interior. “Os serviços de saúde estão praticamente todos concentrados na capital e em meia dúzia de cidades.” Nesta quarta, o governo prorrogou o decreto de calamidade pública no âmbito da administração estadual até 30 de setembro, após levar em conta o “agravamento da pandemia do coronavírus e de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave” no estado.

O estado vê o avanço de casos com preocupação, segundo a Secretaria da Saúde. “Neste momento, a gestão estadual procura sobretudo agir em parceria com os municípios de Mato Grosso, de forma a somar esforços para que iniciativas eficazes sejam colocadas em prática”, informou a pasta.

A secretaria afirmou que adotou antecipadamente condutas de prevenção, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, ampliou leitos da rede estadual e investiu em insumos e equipamentos de proteção. A previsão é que cerca de 100 novos leitos de UTI sejam abertos em parcerias com prefeituras.

Já em Goiás, foram registrados até aqui casos do novo coronavírus em 186 dos 246 municípios. Em outros 54 há casos suspeitos da doença.

Segundo dados da Secretaria da Saúde, há 12.513 casos confirmados, com 255 óbitos, e duas regiões geram as maiores preocupações. Além da região metropolitana de Goiânia, geram preocupação, de acordo com a pasta, as cidades que detêm grandes indústrias ou margeiam as principais rodovias do estado.

Rio Verde, no sudoeste goiano, tem 3.813 confirmações da doença, ou 30,4% do total do estado. Outra preocupação está no entorno do Distrito Federal, região com mais de 1 milhão de habitantes.

O estado ampliou os leitos de UTI no HCamp (Hospital de Campanha para o Enfrentamento ao Coronavírus), em Goiânia, nesta quarta-feira (17), com mais 10 vagas. Com cenário que destoa dos demais estados da região, Mato Grosso do Sul mantém a última colocação em casos e mortes causadas pelo novo coronavírus no país. Com pouco mais de 2,7 milhões de habitantes, o estado soma 4.164 registros da doença e 36 mortes.

O baixo índice de ocupação de UTIs -que até então não passou de 16% nos leitos públicos exclusivos para a doença em Mato Grosso do Sul- fez com que municípios desabilitassem na última semana parte das vagas para atender outros pacientes.

A situação mais crítica é na região de Corumbá, que faz divisa com a Bolívia. Com apenas 20 UTIs disponíveis, a taxa de ocupação chegou a 95% na área. Mesmo assim, apenas 35% dos leitos estão preenchidos com pacientes com a Covid-19.

Os baixos números refletem também na taxa de isolamento social. Nesta quarta-feira (17), o estado e a capital,Campo Grande, ocupavam a antepenúltima posição em comparação com restante do país no índice, com pouco menos de 36% de pessoas em casa.

O cenário já se mostra diferente do início da pandemia. Orientado pelo primo, o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, o prefeito da capital Marcos Trad (PSD) mandou fechar praticamente todo o comércio e o setor de serviços logo quando foi confirmado o primeiro caso do novo coronavírus na cidade, em 15 de março. “Ele me avisou que, se eu não tomasse as medidas de prevenção, iria colher um número de óbitos muito elástico. Eu venho da advocacia e ele é médico, então ouvi o que ele disse”, afirmou o prefeito à reportagem.

Trad instituiu até toque de recolher para a população entre 22h e 5h (a medida continua valendo, mas de 0h às 5h). Com o afrouxamento de medidas, o número de casos dobrou em Campo Grande e reacendeu o alerta da administração. A prefeitura estuda obrigar todos a usarem máscaras de proteção, medida hoje restrita aos ônibus, e ampliar o toque de recolher.

Mesmo com a reabertura gradual dos estabelecimentos, há diversas restrições. Academias, por exemplo, só podem funcionar com 30% da capacidade de clientes e só poderão dobrar esse percentual a partir do final de junho.

FOLHA S. PAULO

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