Depois do sufoco, o alívio. Phelipe Rodrigues, estrela da natação paralímpica brasileira, conviveu com uma temporada de altos e baixos, tudo por conta da tensão pela reclassificação funcional dos atletas paralímpicos. Passado o susto de ficar sob revisão e correr o risco de ser inelegível para o esporte, como aconteceu com André Brail, o pernambucano emendou duas competições importantes e ratificou sua classe na natação. Mais que isso: conquistou nove medalhas para o Brasil, sendo oito no Parapan-Americano de Lima e uma no Mundial de Natação Paralímpica. Ao fim da temporada, ele só tem um objetivo agora em mente, que é garantir o ouro nas Paralimpíadas, único feito que falta para sua vitoriosa carreira.

As principais competições da temporada 2019 terminaram e agora o sentimento do nadador é de “virar a chave” para Tóquio-2020. De férias no Nordeste após voltar de Londres, onde conquistou sua última medalha internacional deste ano – a prata nos 50m livre classe S10 (para atletas com menor grau de comprometimento motor) do Mundial de Natação Paralímpica –, Phelipe passou pelo Recife, sua cidade natal. Ele conversou com o GloboEsporte.com sobre a montanha russa que viveu antes do Parapan de Lima, em agosto, no qual conquistou sete ouros, um bronze e foi o atleta mais vitorioso dos Jogos. Antes de chegar no Peru, porém, foram cinco meses vivendo sob tensão.

Em abril deste ano, Phelipe passou pelo novo processo de reclassificação funcional do Comitê Internacional Paralímpico (IPC) e, de início, foi atestado como inelegível para a sua classe na natação, mesmo caso do medalhista paralímpico André Brasil. Com o apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) foi pedida uma revisão e Phelipe, em nova análise, ficou com o status de “review”, uma aprovação sob asterisco. Na prática, ele teve que esperar até a próxima competição internacional, justamente o Parapan, para saber se seria confirmado ou não como atleta paralímpico.

O nadador contou sobre os obstáculos que teve de superar nos dias de treinamento com a dúvida pairando se continuaria no esporte ou não. Para Phelipe, o processo das novas regras de classificação foi imposto de forma muito rápida e isso acabou atingindo negativamente os atletas, mesmo os mais experientes.

– Foi difícil me manter tranquilo porque tinha essa incógnita e até então eu tava 50% dentro e 50% fora do esporte. Como aconteceu a mesma coisa com o André (Brasil) e ele acabou ficando de fora, eu estava com mais medo ainda. A única coisa que eu podia controlar nesses cinco meses de treinamento era o que eu podia fazer: treinar. Se eu não treinasse e desse certo, chegaria nessas competições destreinado; e se eu treinasse e não desse certo, pelo menos dei o meu máximo. Fiz o que podia fazer e estava ao meu alcance – desabafou, criticando o modo como foi conduzida a classificação funcional

– Não esperava ter essa indecisão. É um diagnóstico óbvio, algo que tenho desde que nasci e, mesmo que eu faça uma operação, não vai melhorar. Para mim era óbvio que eu estaria no sistema (paralímpico). Mas estamos sujeitos à subjetividade de pessoas. Foi muito precipitada essa questão da classificação. Era para ser um período de testes, colher dados, o que foi dito que ia ser feito, mas acabou que eles (do Comitê Internacional) começaram de uma hora para outra. Eles não tinham experiência nenhuma em como aplicar esse novo método.

Não é por menos que, após o susto e os ótimos desempenhos no Parapan e no Mundial, Phelipe Rodrigues esteja, enfim, aproveitando dias de descanso. Mas se engana quem pensa que esse período vai durar muito tempo. Ele volta aos treinamentos no início de outubro, quer antecipar o início do ciclo de preparação para garantir logo os índices de Tóquio-2020. Dono de sete medalhas paralímpicas (cinco de prata e duas de bronze), o nadador tem um foco muito claro: vai em busca do ouro que lhe falta.

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